domingo, 29 de março de 2009

Renato Russo Vive


Marcello Barbosa não deixou a data de 27 de março passar em branco; recordou-se e postou com muita sensibilidade um texto sobre Renato Russo intitulado "Hoje Renato Russo faria 49 anos". Ao ler o texto me senti provocado em revelar um pouco do que penso e sinto pelo Renato; abaixo o comentário que publiquei em seu blog:

Renato Russo é, para mim, o maior poeta contemporâneo. Em suas letras e melodias soube como nenhum outro unir o popular ao erudito. Não o erudito pedante, mas um erudito com espiritualidade.

Quando FAROESTE CABOCLO tocou pela primeira vez nas rádios sentenciei: trata-se de um épico da música popular brasileira, meses depois eu lia nos jornais a rendição da intelectualidade reconhecendo o "ÉPICO" naquela composição. E, particularmente, não me refiro à semântica épico como "rock progressista", mas à poesia épica, onde João de Santo Cristo realiza um grande feito heróico e se faz representante de toda uma nação de excluídos.

ÍNDIOS sempre me arrancou lágrimas. Há nessa obra uma mistura de catolicismo, Lévi-Strauss, filosofia, tudo de um jeito tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexa que não consigo avaliar. Há nessa música algo incompreensível que sensibiliza sem que saibamos conceituar, mas que pela intensidade percebemos que toca numa camada substancialmente profunda de nossas almas, arquétipos ou seja lá qual nome queiramos dar. Numa palavra: toca nossos espíritos.

SE FIQUEI ESPERANDO MEU AMOR PASSAR nos convida a esperar pelo amor verdadeiro e se propõe a resgatar o sentido do amor e do sexo em meio a banalização geral dos corpos e sentimentos.

MONTE CASTELO foi pura ousadia: fundiu o capítulo 13 de Coríntios e um Soneto de Camões e colocou música na letra. O título faz alusão à batalha de Monte Castello, quando na segunda grande guerra o Brasil teve sua maior participação contra as forças nazistas. Renato inverte, na música, a lógica da guerra: é só o amor... é só o amor que conhece o que é verdade. O resultado foi uma das mais tocantes, belas e sempiternas composições da música em língua portuguesa.

"Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem. Agora vejo em parte, mas então veremos face-a-face. É só o amor. É só o amor que conhece o que verdade". Estes versos me faz lembrar de outros dois grandes poetas da língua portuguesa:

Cazuza que anunciava:
"Pro dia nascer feliz.
O mundo inteiro acordar
A gente dormir, dormir"

E ainda o poeta maior, Drummond, que me sensibilizou há tempos com os versos:
"Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as criança"

Carlos Drummond de Andrade preparou a canção e Renato Russo a interpretou com a singularidade de quem, ao interpretar, usa mais a alma que a voz.

RENATO permanecerá para sempre em nossa história, na nossa cultura, em nossas almas, nas almas de nossos filhos e na alma dos filhos dos nossos filhos.


Carlos de Andrade
escritor, autor do romance Chuva de Novembro

Nenhum comentário:

Postar um comentário