sexta-feira, 3 de abril de 2009

As instituições nascem Estóicas e morrem Epicuristas.


As instituições são organismos vivos e têm grande semelhança com aqueles que lhes dão vida: o homem. O homem, tal como as instituições, nascem estóicos e, em geral, morrem epicuristas. O epicurismo e o estoicismo são duas doutrinas filosóficas que floresceram na Grécia no século III A.C.
O estoicismo propõe viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo. O epicurismo, por outro, lado preconiza que para ser feliz o homem necessita de três coisas: liberdade, amizade e tempo para meditar e que a presença do prazer é sinônimo de ausência de dor, ou de qualquer tipo de aflição: a fome, a abstenção sexual, o aborrecimento, etc. Para os epicuristas uma vida de continuo prazer é a chave para a felicidade total e absoluta.
Ao afirmar que os homens e as instituições nascem estóicas e morrem epicuristas aparentemente me entrego ao determinismo, doutrina que prega que todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas, são causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio, logo, destituído de liberdade total de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte, mas esta entrega ao determinismo é apenas aparente, visto que me filio filosoficamente a Jean-Paul Sartre para quem o homem está condenado a ser livre, escolher o tempo todo.
O Partido dos Trabalhadores em breve estará completando 30 anos. Nascemos estóicos, revolucionários e fizemos uma revolução na política e na história do Brasil. A idade de trinta anos, porém, é cabalística. É a Idade da Razão. Foi a partir dos trinta anos que Jesus tomou a maior decisão de sua vida: ser o Cristo ou o “homem” de “A última tentação de Cristo”, do escritor grego Nikos Kazantizakis, filmado por Martin Scorcese, onde Jesus acalenta o sonho de casar-se com Maria Madalena para ter muitos filhos e netos, renunciando, portanto, ao seu messianismo.
Existe um fato: as instituições nascem estóicas e morrem epicuristas. Mas o grande mérito das instituições e do homem é a liberdade de protelar esta queda ao epicurismo. Houvesse Jesus caído na “Última tentação de Cristo” o mundo deixaria de conhecer o cristianismo. Este é o dilema pelo qual nosso partido passa ao aproximar-se de seus trinta anos. Por quanto tempo o Partido dos Trabalhadores manterá vivo as raízes ideológicas, o princípio ético e ideais sociais pelos quais foi criado? Por quanto tempo ainda seremos um partido político antes de nos convertermos em uma simples legenda? Por quanto tempo ainda seremos idealistas, no sentido de lutar por uma sociedade mais justa para todos, antes de nos convertermos ao pragmatismo individualista?
A ética partidária deve ser rediscutida. Precisamos reafirmar nossos valores se quisermos sobreviver como partido político. Qualquer escolha diferente disso será uma renúncia ao papel histórico que assumimos no início da década de 80 quando nascemos vocacionados ao estoicismo e à revolução.


Carlos de Andrade

escritor, autor do romance Chuva de Novembro



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